Apresentação

Eu sei que existem muitos blogs sobre Twilight, mas todos que eu conheço são extremados: ou Twilight é a primeira maravilha, tendo desbancado já as outras sete, ou é um lixo nuclear, cujo úúnico mérito é arder bem e sendo capaz de alimentar uma boa fogueira.
Este blog, portanto, se propõe a um meio-termo: a criticar algumas coisas, sim, mas, também, a encontrar aspectos positivos que merecem atenção e, até, alguma deferência.

Então, para estabelecer os pontos, sim, eu li os livros, e mais de uma vez. Se gostei? Muito! Mas não espere que eu inveje as descontroladas que arrancaram sangue dos pescoços na presença do ator que interpreta Edward; tampouco esperem que eu assine um daqueles blogs do tipo "porque nós odiamos twilight". Existe um meio termo em tudo isso, e é nele que estou.

Então, por tudo isso, mais um blog sobre Twilight!

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Finalmente, um chute no determinismo

Das escolas literárias, o Naturalismo é a que menos me agrada. Isso
porquê, a nortear todas as suas obras, dentre outras teorias, está o
Determinismo. O resumo da missa é simples: o homem é moldado pelo meio.
O livre-arbítrio nada pode contra ele. O homem é o que é, e está fadado
a permanecer no mesmo patamar, isto, claro, se não cair em uma aspiral
descendente instigada pelos que estão em seu derredor.
As duas obras mais significativas da escola no Brasil são "O Ateneu" e "O
Cortiço". Achei ambas leituras muito tristes. Compreendo que a vida seja
regada de sacrifícios vários e que tanto o meio quanto o ser em si sejam
barreiras difíceis de romper. Entretanto acredito no amor e na força de
vontade.
Do pó às estrelas, rezava o Talmud; "Vós sois deuses", cantava o
Mestre de Nazaré.
De qualquer modo, esta escola penetrou em todos os gêneros
literários, mesmo na fantasia e no terror. Dentre as obras de peso
escritas sob esse sopro, duas fizeram um sucesso que perdura até os dias
de hoje.
Na primeira, "FRANKENSTEIN", de
Mary Shelley, um gênio "brinca de Deus" e faz, com suas próprias mãos,
outro ser, que embora se pretendesse humano, era um monstro, no final de
contas. Sua aparência era aterrorizante e hedionda.
Frankenstein passa, assim, a maior parte do livro em busca de
amor e aceitação e é rechaçado até que se torna um assassino. E nessa
esteira o livro conduz, criador e criatura, de desgraça em desgraça, de
sofrimento em sofrimento, até a morte de ambos, trazendo consigo uma
esteira de assassinatos e de misérias morais. Frankenstein tenta fugir
à sina de monstro e vingador e falha redondamente, por não contar com
sequer uma chance de amar e ser amado.

Então temos Gaston Leroux e seu merecidamente consagrado "O fantasma
da Ópera". Eric não foi forjado por mãos humanas, mas por algum motivo
tinha aparência tão terrível, que nem mesmo sua mãe suportou olhá-lo.
Seus talentos lhe renderam lugar em um circo, mas não uma admiração
legítima. Assim foi que, após diversas peripécias, ele esconde-se no
subsolo da ópera de Paris e, de feio e fantasmal, converte-se em anjo
para sua amada, a cantora lírica Christine Daaé. Tudo vai muito bem, até
que ela reencontra um amigo de infância e Eric faz de tudo para
conservá-la... E a perde. Não discuto aqui os méritos e deméritos de
Eric e Raoul; apenas friso que, se ele soubesse da existência do
Determinismo e da história do seu símile literário, o Frankenstein, não
teria ousado esperar ser correspondido pela sua bem-amada.
Ambos constituem uma leitura comovente e marcante, mas também
extremamente melancólica. Pessoalmente, marcou-me muito as lamúrias de
Frankenstein sobre sua solidão e falta de oportunidade de amar e ser
amado, apesar de sua aparência.
É comovente, por exemplo, a passagem em que ele e seu criador se
encontram e ele praticamente lhe implora afeto e dignidade, sendo
rechaçado irrevogavelmente.

— Que posso fazer para abrandá-lo? Não haverá súplica capaz de modificar sua atitude para com sua criatura que lhe
implora bondade e compaixão? Creia-me,
Frankenstein, eu era bondoso. Trazia amor e humanidade dentro da alma, antes que viesse a ficar só, miseravelmente só, como
agora. Se você, que é meu criador, me
renega, que posso esperar de seus semelhantes, que nada me devem? Deles só tenho recebido o escárnio e a
repulsa."
No mesmo tom, Eric esbraveja:

"Você está chorando? Tem medo de mim? No fundo, entretanto, eu não sou mau! Ame-me e verá!
Só me faltou ser amado para ser bom! Se você me amasse, eu seria doce como um cordeiro e você faria de mim o que
quisesse."
E Nelson Mandella conclui:
"As pessoas não são amadas porque são boas; elas são boas porque são
amadas".
Eu sempre maldizia a influência determinista que impediu os autores
de darem uma chance aos seus personagens destinados ao mal e à solidão,
a amar sem serem amados.
Então, apesar das múltiplas falhas, tia Steph me fez esse imenso
favor: deu um chute no determinismo e deu aos seus personagens uma
chance de serem felizes e de superarem a si mesmos. Fez vampiros que
constrangem sua cede assassina ao respeito pela vida humana
conquistando, assim, mais humanidade para eles próprios; fez Bella que,
apesar de todas as limitações permite Edward mostrar a que veio não só
uma, mas duas vezes.


Eu me comovo sempre que leio o instante em que Bella e Edward se
encontram, na cerimônia de casamento. Minha imaginação literária vê, no
seu triunfo, uma libertação na literatura fantástica, um rompimento com
o Determinismo que, não obstante exista, de fato, não é de modo nenhum
regra... Graças a Deus!

Eu flutuei nas escadas junto com as fragrâncias
das milhares de flores. Eu me concentrei na idéia de Edward me esperando lá embaixo pra fazer
os meus pés se moverem. A música era familiar, uma marcha tradicional de Wagner cercada por um monte de embelezamentos.
"É a minha vez", Alice chiou. "Conte até
cinco e me siga. Ela começou a descer as escadas lenta e graciosamente. Eu devia ter me dado conta que ter Alice como minha
única dama de honra era um erro. Eu ia
parecer muito mais descoordenada andando atrás dela. Um súbito ruído de juntou à música. Eu reconheci a minha deixa. "Não
me deixe cair, pai", eu sussurrei. Charlie
pôs a minha mão em seu braço e a apertou com força. Um passo de cada vez, eu disse a mim mesma enquanto começava a descer
ao lento som da marcha. Eu não ergui meus
olhos até que os meus pés estavam seguros no chão, apesar de conseguir ouvir os murmúrios e ruídos da platéia enquanto eu
aparecia. O sangue subiu pro meu rosto
por causa do som; é claro que já se esperava que eu fosse uma noiva corada. Assim que os meus pés tinham vencido as escadas
traiçoeiras, eu estava procurando por
ele. Por um breve segundo, eu fiquei distraída com a profusão de botões de flores brancas que pendiam de guirlandas em qualquer
parte da sala que não estivesse viva,
caindo em longas filas de leves laços brancos. Mas eu separei meus olhos dos arcos das portas e procurei pelas fileiras
de cadeiras cobertas de cetim ­ ficando ainda
mais vermelha quando vi a multidão de rostos olhando pra mim ­ até que eu finalmente o encontrei, de pé perto de um vaso
com mais flores ainda, e mais laços. Eu
mal tinha consciência de Carlisle de pé ao lado dele, e do pai de Angela atrás deles dois. Eu não vi minha mãe de onde ela
devia estar sentada na primeira fileira,
nem a minha família nova, ou nenhum dos meus convidados ­ eles teriam que esperar até mais tarde. Tudo o que eu realmente
via era o rosto de Edward; ele encheu minha
visão e dominou minha mente. Os olhos dele estavam claros, ouro em chamas; seu rosto perfeito estava quase parecendo severo
com a profundidade de suas emoções. E
aí, quando ele encontrou meu olhar abismado, ele se quebrou em um sorriso feliz de tirar o fôlego. De repente, a única coisa
me impedindo de correr pelo corredor
era a mão de Charlie apertando a minha. A marcha era lenta demais enquanto eu tentava fazer meus pés acompanharem o ritmo.
Por sorte, o corredor era bem curto. E
finalmente, finalmente, eu estava lá. Edward estendeu sua mão. Charlie pegou minha mão e, num símbolo tão velho quanto o
mundo, colocou-a sobre a mão de Edward.
Eu toquei o frio milagre de sua pele, e eu estava em casa. Nossos votos foram simples, palavras tradicionais que já foram
ditas milhões de vezes, apesar de nunca
por um casal como nós.

2 comentários:

  1. Zomg, que achado esse blog! Acho um absurdo eu ter pegado seu comentário no Twilight Haters Brasil antes. Fiquei um pouco ofendido com você dando a entender que nós não nos comprometemos com o bom senso e com a lógica elementar, mas depois me senti bem sexy e visceral, e tal, então sem ressentimentos. hahaha.

    Enfim, foi interessante essa sua leitura. Eu diria que é um dos melhores argumentos a favor de Twilight que eu já vi, junto com aquele que tá meio batidinho, já, mas que eu acho bem válido, até: o de que a "saga" é sobre o que sente uma pessoa que tá cegamente apaixonada, e que a Bella não foi criada pra ser um narrador confiável.

    Tenho dois problemas com o que você disse. Um deles é bastante subjetivo, diga-se de passagem: além de não parecer resultado das ambições artísticas da Stephenie Meyer (não que se deva levar o que os autores dizem ao pé-da-letra, mas uma mulher que declara que "não escreve mensagens" não me parece o tipo que gosta de transgredir convenções literárias), não acho que esse chute no determinismo foi dado de forma crível e bem desenvolvida, no sentido de que não existe sequer o conflito da visão determinista no mundo em que o amor entre o Edward e a Bella acontece.

    Imagina o quão mais interessante tudo seria se os personagens, por exemplo, enfrentassem obstáculos reais, e questionassem o amor que sentem um pelo outro, antes de concluir que não, é isso mesmo que eles querem. Tá difícil de puxar exemplos agora, mas você que discorre bastante sobre as diferenças entre as principais escolas literárias deve concordar comigo que as que são estudadas como dicotômicas costumam colocar idéias gerais (mais simplificadas, óbvio) das outras como recurso narrativo, inclusive.

    Outro problema, e com esse eu imagino que você vá concordar pelo menos parcialmente, é que eu acho que a Stephenie Meyer usar do próprio determinismo de diversas outras formas, desde que não apresentem um obstáculo pro final feliz dela, invalida a subversão que ela fez antes. Assim, olha a construção de gêneros que ela fez, por exemplo. A própria sugestão de que é impossível pra Bella ser feliz sem se transformar numa vampira é uma ótima ilustração disso, aliás.

    A forma superficial que a Stephenie Meyer diz que é impossível de se manter um relacionamento saudável com uma pessoa mais jovem e mais bonita que você é, pra mim, particularmente ofensivo. Ah, e eu arriscaria dizer que com todo aquele blá-blá-blá sobre "destino", sobre o quanto tanto o Edward quanto a Bella jamais poderiam ficar com outras pessoas, não deixa de ser bem... er... determinista, também.

    Mas de qualquer jeito, eu espero que esse seu blog tenha uma vida bem longa. Certeza que eu vou curtir ler por um bom tempo. Boa sorte.

    (Anísio)

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  2. Oieee!!

    Bom, pra começar, a "crítica" da apresentação não se dirigia a
    nenhum blog em particular. Tipo, seria arrogante demais supor que o meu
    seria o único blog com alguma lógica sobre o assunto, eee.
    Na verdade, eu não tive a oportunidade de ler o seu blog todo, mas
    acho, de todo meu coração, que tenho mais paciência para ler as críticas
    de vocês que a babação irritante dos blogs de quem "baba na cueca do
    Rob", se é que me entende.
    Acho que a minha crítica à falta de lógica era mais direcionada às
    fãs que aos críticos, sei lá.
    De qualquer modo, tenha paciência comigo.. Estou no meio de uma
    "crise de identidade twilíghtica", porque parece que "gosto e desgosto"
    na mesma proporção, no meio de gente que parece tão certa do que acha
    da obra, como um todo...

    O argumento da Bella não ser um narrador confiável é bom.

    Entretanto o meu ponto não é o de redimir twilight, nem ajudar a
    puxar a descarga para ele. Eu acho que fico incomodada com toda essa
    necessidade de polarização definitiva - ser um lixo / ser maravilhoso.

    Ah, não. O "chute no determinismo", pra mim, foi feito "no final do
    processo", não no decorrer de todo ele. E é válido em paralelo com as
    outras obras, não dentro do Crepúsculo em si. Além do mais, acho muito
    pouco provável que ela tenha visto a questão sob esse prisma.

    ***

    Imagina o quão mais interessante tudo seria se os personagens, por
    exemplo, enfrentassem obstáculos reais, e questionassem o amor que
    sentem um pelo outro, antes de concluir que não, é isso mesmo que eles
    querem.

    ***

    Imagino isso e mais umas cinco formas da história poder ficar mais
    interessante do que é. Tipo, não é porque tenha pontos positivos que a
    história é bem feita.

    *pensando* Eu confesso que não tenho certeza se invalida ou não. Eu
    gosto de pensar numa mensagem final de que vale a pena as pessoas
    lutarem pelos seus objetivos, que fatores in icialmente limitadores
    como, por exemplo, a diferença de espécies entre Edward e Bella podem
    ser contornados se elas quiserem realmente.


    ***

    Assim, olha a construção de gêneros que ela fez, por exemplo. A própria
    sugestão de que é impossível pra Bella ser feliz sem se transformar numa
    vampira é uma ótima ilustração disso, aliás.

    **

    Não, não é não. :-) A Bella tem que se transformar numa vampira *porque
    ela quer*. Na verdade, ela estava até tentada a adiar isso tudo, quando
    engravidou e continuar humana deixou de ser uma opção para ela.
    Aquilo não foi "determinismo", mas decisão da guria mesmo. Ela
    decidiu que só seria feliz se virasse uma vampira e só aquietou quando
    virou uma.

    ***

    A forma superficial que a Stephenie Meyer diz que é impossível de se
    manter um relacionamento saudável com uma pessoa mais jovem e mais
    bonita que você é, pra mim, particularmente ofensivo.

    ***

    Um, não entendi. Juro que não. Pode explicar?

    Ah, e eu
    arriscaria dizer que com todo aquele blá-blá-blá sobre "destino", sobre
    o quanto tanto o Edward quanto a Bella jamais poderiam ficar com outras
    pessoas, não deixa de ser bem... er... determinista, também.

    ***

    *pensando*...
    Sim, é bem determinista. O pior é que eu acho que isso aconteça.
    Acho que as pessoas se fixem tanto em um único par romântico, que ele
    se torna, sim, a única opção viável. Infelizmente isso acontece na vida
    real, e nem sempre tem um final feliz, certo? :-(?
    Então, sim, eu concordo contigo que isso da Bella *só poder ser
    feliz com o Edward* é determinista, mas acho que infelizmente a tia
    Steph não criou nada aí.

    Eee, muito obrigada pelo seu comentário!! Espero que continuemos
    papeando.. E vou voltar no teu blog, para ver como andam as coisas por
    lá. Valeu!!!

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